domingo, 8 de junho de 2014

Grupo Covilhã em Transição - Carina Ferreira




Por: Carina Ferreira



Transição do e no Interior 

grupo Covilhã transição - transição do e no Interior




Cooperação, projetos, partilha e espírito de mudança são, o lema da história feita pelas mãos do Grupo Covilhã em Transição, um percurso que reflete o espírito de uma comunidade melhor mais sustentável e resiliente.



Em transição há um ano, o Covilhã Transição é um grupo de pessoas que juntas pretendem tornar o espaço em que vivem, mais saudável e resiliente. Em Maio de 2013, pelas mãos de Ana Carlos, Margarida Sousa, Manuel Lourenço, Miguel Silvestre, Nuno Donato, Antónia Silvestre e Gracinda Pereira, surgia o primeiro encontro da iniciativa em transição, como uma apresentação de “como melhorar a minha comunidade?” Margarida Sousa, membro do grupo transição refere que o grupo embora tenha sido começado por estas pessoas, “o objetivo é torna-lo numa iniciativa mais horizontal, todos fazem parte, todos são fundamentais para o bom funcionamento de um projeto com vista comum a todos”. Parte de cada elemento dar um pouco de si, do seu tempo e da sua vontade de viver numa comunidade mais humana e resiliente.

A história da Transição começou na vila de Totnes, na Inglaterra em 2005/2006 com o objetivo de tornar a comunidade de um local mais atenta às questões ambientais, culturais, sociais e económicas, e, rapidamente esta iniciativa migrou para terras internacionais. Devido ao contexto sociocultural e económico do local onde acontece a transição será diferente de lugar para lugar, este é um dos aspetos fortes da transição, ela tem uma identidade própria. Os objetivos do movimento transição, esses sim, são iguais. O lema é tornar a comunidade em que se vive mais saudável e resiliente sendo necessário a ajuda e união de todos.

O Grupo Covilhã em Transição tem no seu programa de projetos um vasto conjunto de iniciativas a nível local. Iniciativas como as ajudadas, a biblioteca, as caminhadas, o cinema, a educação, o “troca a todos”, a reabilitação urbana, a reflorestação e a troca de sementes, têm em vista a transformação da comunidade, no sentido de uma vida mais tranquila. Aliado a todas estas iniciativas, encontra-se um grupo livre de regras onde todas as pessoas pertencentes ao grupo colaboram nas atividades consoante a organização das mesmas.
Este grupo de Transição, geralmente junta entre 10/15 pessoas, no entanto há atividades que chegam a juntar mais de 30 pessoas. A comunidade da Covilhã tem vindo a aderir lentamente, ao conceito “transição” e todas as iniciativas em torno deste. Um dos objetivos da transição é cuidar a terra através da Permacultura (Anexo 1). Esta atividade baseia-se não só numa lógica sustentável e ecológica, mas também tem a sua vertente social de cuidar das pessoas, partilhar os excedentes, levando a comunidade a refletir a consciência de uma vida melhor, em prol da partilha e do bom desenvolvimento a nível local pelas mãos de todos.
A essência deste grupo passa por questões ambientais, promovendo e desenvolvendo a Permacultura. Questões relacionadas com a preocupação com terra, as relações com as pessoas, questões ecológicas, divulgação de práticas de poupança energética e diminuição dos níveis de consumo, fazem com que as associações locais em colaboração com o grupo Transição ofereçam à comunidade uma visão mais ampla para um futuro próximo. Além das preocupações mencionadas anteriormente, a Transição pretende criar soluções para a economia, com formas mais colaborativas, como o empreendedorismo social, através da criação de uma moeda. Este é de fato um dos grandes desafios, para uma sociedade mais resiliente e economicamente sustentável sem que valores ecológicos e sociais da comunidade sejam postos em causa. 
 
Na rua, no bairro e pela cidade da Covilhã o grupo Transição tem dado o seu contributo. Entre os dias 17 e 18 de Maio de 2014, foi a vez da Intervenção Artística nas Escadas da Trapa (Anexo 2). Estas escadas, esquecidas ao longo dos anos, foram agora reavivadas com pinturas e frases que retratam a história das gentes da Covilhã e das atividades da Indústria Têxtil que laboraram ao longo do tempo na cidade.

Este projeto permitiu desenvolver não só a perícia e criatividade, mas também a ajuda humana da comunidade como manda a tradição do grupo. Com a ajuda da Câmara Municipal da Covilhã, que disponibilizou meios para a limpeza das escadas, a tarefa de reabilitação pelo grupo, começou. O principal objetivo da intervenção, para que não se deixe cair no esquecimento as origens da comunidade e, se torne os locais mais saudáveis, e com mais vontade de se frequentarem foi alcançado. Tomando como apoio excertos do romance “A Lã e a Neve” de Ferreira de Castro, datado de 1947 e que descreve a vida dos operários que todos os dias desciam e subiam pelas Escadas da Trapa a caminho do trabalho, foi dado o mote inicial para retomar a vida e trazer luz às mias de 120 escadas que constituem parte da história da Covilhã.

Com horas de trabalho entre o dia, e a noite a intervenção começou a desenhar-se com projetores direcionados à parede, esboçando-se imagens de operários e fábricas. Quando a tinta começou a dar cor e forma às figuras nas paredes, as pessoas que passavam agradeciam e davam opinião “está tão bonito”, “sim senhor, muito bem assim, dá gosto ver”. Com algum custo e suor a iniciativa tomou a figura de um local mais confortável de se ver, e com a história não só no tempo, mas também transcrita no chão das escadas e nas paredes que as envolvem. 

As figuras das paredes foram desenhos elaborados por alunos do curso de Design e Multimédia da Universidade da Beira Interior, que no decorrer de uma unidade curricular aderiram à iniciativa e contribuíram com desenhos das fábricas, dos operários e de figuras importantes que passaram pelo Teatro das Beiras, uma vez que uma das paredes do edifício (Anexo 3) se encontra junto às escadas e faz parte da sua história. 

Pelas mãos das gentes da comunidade que se juntou à iniciativa do Grupo Transição, o desfecho dos dois dias de intervenção artística nas Escadas da Trapa culminou com as danças tradicionais europeias, esta atividade é própria do movimento transição onde todos são aprendizes e mostram o dom da dança em grupo. Inserido no espírito do grupo houve um momento de convívio, que culminou com um jantar onde a conversação e troca de ideias imperam. Já perto do final, o Grupo Transição mostrou um vídeo onde pessoas da Covilhã testemunharam a vida de outrora naquelas escadas. Na despedida juntou-se toda a gente no início das escadas, e subiu-se degrau a degrau a ver uma representação “da realidade vivida na altura dos operários fabris” por elementos do Teatro das Beiras. Quando subidas todas as escadas, cantaram-se os parabéns dos 40 anos do Teatro, e do primeiro ano do Grupo Covilhã em Transição. 
      
Vídeo elaborado pelo Grupo Transição com testemunhos da história das Escadas da Trapahttps://vimeo.com/96318233

Covilhã em Transição pretende o melhoramento ambiental, social económico e cultural da comunidade. Este grupo tem na sua área de atuação várias atividades que vai pondo em prática de acordo com a possibilidade de todos os elementos. Reúnem-se em grupo e debatem questões que pensam necessárias, sejam elas de foro social, ambiental ou cultural, o importante é terem ideias que de algum modo sejam benéficas para a comunidade.
 
Na atividade de Reflorestação, (Anexo 4) o grupo Transição está envolvido com a AMO Portugal, (Associação de Mãos à Obra), e a Tribo da Estrela, um grupo de amigos que procura intervir de modo a proteger e preservar o meio ambiente, o lema do grupo é “Pensar global, Agir local”, para criar ações de recolha e troca de sementes, criação de viveiros, e reflorestar a Serra da Estrela. Fazer valas de infiltração, cortar plantas queimadas pelos incêndios e proteger árvores mais pequenas dos animais. É o trabalho de sementeira e reflorestação que o grupo transição tem desenvolvido junto da comunidade da Serra da Estrela.

Página: Tribo da Estrela: http://tribodaestrela.wordpress.com/

Também as Ajudadas (Anexo 5) são ações que visam implementar conhecimentos, e técnicas de Permacultura em terrenos e jardins com ajuda voluntária. Através de pedidos, o grupo Transição tem sido o autor de intervenções em terrenos de pessoas que pretendem ajuda de mãos voluntárias. As Caminhadas (Anexo 6) são uma forma de estar em contato com a natureza, promovendo o convívio do grupo e prestando atenção para uma possível intervenção de reflorestação. A Biblioteca e o Cinema são duas das iniciativas em que o grupo faz uma troca de “conhecimentos”, face à partilha de livros no sentido de aumentar a informação entre todos. Nos filmes trata-se de ver temas relacionados com a Transição, a Permacultura e alguns modos de sensibilizar e estimular novas ideias. Na Educação, o grupo tem estado em estreita colaboração com algumas escolas da comunidade, como a Escola Secundária Frei Heitor Pinto, onde junto de alunos e professores, promovem uma educação para a sustentabilidade da comunidade. Em pareceria com a Coolabora (consultoria de intervenção social), têm em conjunto o evento Troca a Todos. Essa parceria baseia-se numa troca de produtos ou serviços sem recurso direto a dinheiro, que pretende valorizar as competências e possivelmente a implementação de uma moeda local, tendo já promovido eventos como “dar a volta à vida”. Neste vasto conjunto de iniciativas, o grupo, tem ainda espaço para as Danças Tradicionais Europeias, um momento de convívio e descontração. Nesta atividade não há professor, pares fixos nem gente parada. O lema é saber ouvir o ritmo da música e acima de tudo saber ouvir o outro, as danças são “todos juntos”. Foi também pela mão das danças tradicionais que o grupo conseguiu angariação monetária para a intervenção que mais tarde veio a desenvolver nas Escadas da Trapa.
Para além de todas as associações que colaboram com o grupo Transição, destaca-se também o contributo de três jovens, que durante nove meses estiveram em união e partilha com o Grupo Transição. Lara Motoya de nacionalidade Espanhola,  Enrico Chiari vindo da Itália e Verna Puh da Eslovénia integraram este grupo através do serviço de Voluntariado Europeu, um intercâmbio internacional. Apaixonados pela mudança interior que pretendem colocar em prática no sentido de tornar a comunidade local melhor, estes três voluntários trabalharam na Permacultura e na transição da comunidade da Covilhã. Chegados sem saber muito bem o que os esperava, vieram para traçar o seu próprio caminho  na Covilhã. Durante a sua estadia, fizeram parte da intervenção artística nas Escadas da Trapa e também de todas as atividades que preenchem o sentido de partilha e união para uma vida em sociedade mais igualitária e melhor. Desta experiência destaca-se “a conexão com o interior pessoal, a natureza e as outras pessoas, é o passo principal para uma comunidade inspirada na união e partilha, e a transição entre todos precisa de ser feita primeiro no nosso interior e, só depois transportamos isso para a realidade” referiu Enrico.

O movimento Transição surgiu á cerca de meia década com o objetivo de uma resposta ambiental e um processo muito focado em questões de sustentabilidade. As comunidades em Transição devem ser capazes de contar as suas próprias histórias, sejam do passado, do presente ou futuro e que inspirem novas pessoas e localidades para a mudança principalmente a nível humano. Atualmente, as sociedades estão rodeadas de histórias pouco positivas, o pessimismo assolou as comunidades a nível global. E, neste âmbito o movimento de transição apela à mudança de pensamentos e de ações a partir do interior das pessoas para junto da comunidade em que residem.  
O movimento Covilhã Transição procura criar uma comunidade de partilha e ligação com vista a uma sociedade mais solidária e resiliente. A partilha é também um primeiro passo para algo maior, como a confiança, o aumento de laços e o fortalecer das relações, criando um ambiente de segurança. Todo o trabalho realizado pelo grupo e pelas associações colaborativas permite uma reflexão social baseada num desenvolvimento sustentável da comunidade. Com um ano de vida e já com muitas histórias para contar, este grupo tem vindo a criar raízes para que mais tarde o fruto das sementes que semeiam possa ser uma Covilhã viva e saudável entre toda a comunidade.

 link do blog do Covilhã Transição:
http://covilhaemtransicao.wordpress.com


Anexo 1 - Permacultura (cama elevada)
















Anexo 2: Intervenção Artística nas Escadas da Trapa



   Anexo 3: Intervenção Artística/ Paredes do Teatro das Beiras
                                                    
Anexo 4: Reflorestação na Serra da Estrela



Anexo 5: Ajudadas - trabalho voluntário da terra


Anexo 6: Caminhadas do grupo Transição




Anexo 7: A educação junto das Escolas da Comunidade

   Anexo 8:  Troca a Todos - "dar a volta à vida"



Anexo 9: Danças Tradicionais e Europeias

 





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