Por: Carina Ferreira
Transição
do e no Interior
grupo Covilhã transição - transição do e no Interior |
Cooperação, projetos, partilha e
espírito de mudança são, o lema da história feita pelas mãos do Grupo Covilhã
em Transição, um percurso que reflete o espírito de uma comunidade melhor mais
sustentável e resiliente.
Em
transição há um ano, o Covilhã Transição é um grupo de pessoas que juntas
pretendem tornar o espaço em que vivem, mais saudável e resiliente. Em Maio de
2013, pelas mãos de Ana Carlos, Margarida Sousa, Manuel Lourenço, Miguel Silvestre, Nuno Donato, Antónia Silvestre e Gracinda Pereira, surgia o primeiro encontro da iniciativa em transição, como uma apresentação de “como melhorar a minha comunidade?” Margarida Sousa,
membro do grupo transição refere que o grupo embora tenha sido começado por
estas pessoas, “o objetivo é torna-lo numa iniciativa mais horizontal, todos
fazem parte, todos são fundamentais para o bom funcionamento de um projeto com
vista comum a todos”. Parte de cada elemento dar um pouco de si, do seu tempo e
da sua vontade de viver numa comunidade mais humana e resiliente.
A
história da Transição começou na vila de Totnes, na Inglaterra em 2005/2006 com
o objetivo de tornar a comunidade de um local mais atenta às questões
ambientais, culturais, sociais e económicas, e, rapidamente esta iniciativa
migrou para terras internacionais. Devido ao contexto sociocultural e económico
do local onde acontece a transição será diferente de lugar para lugar, este é
um dos aspetos fortes da transição, ela tem uma identidade própria. Os
objetivos do movimento transição, esses sim, são iguais. O lema é tornar a
comunidade em que se vive mais saudável e resiliente sendo necessário a ajuda e
união de todos.
O
Grupo Covilhã em Transição tem no seu programa de projetos um vasto conjunto de
iniciativas a nível local. Iniciativas como as ajudadas, a biblioteca, as
caminhadas, o cinema, a educação, o “troca a todos”, a reabilitação urbana, a
reflorestação e a troca de sementes, têm em vista a transformação da
comunidade, no sentido de uma vida mais tranquila. Aliado a todas estas
iniciativas, encontra-se um grupo livre de regras onde todas as pessoas
pertencentes ao grupo colaboram nas atividades consoante a organização das
mesmas.
Este
grupo de Transição, geralmente junta entre 10/15 pessoas, no entanto há
atividades que chegam a juntar mais de 30 pessoas. A comunidade da Covilhã tem
vindo a aderir lentamente, ao conceito “transição” e todas as iniciativas em
torno deste. Um dos objetivos da transição é cuidar a terra através da Permacultura (Anexo 1).
Esta atividade baseia-se não só numa lógica sustentável e ecológica, mas
também tem a sua vertente social de cuidar das pessoas, partilhar os
excedentes, levando a comunidade a refletir a consciência de uma vida melhor,
em prol da partilha e do bom desenvolvimento a nível local pelas mãos de todos.
A
essência deste grupo passa por questões ambientais, promovendo e desenvolvendo
a Permacultura. Questões relacionadas com a preocupação com terra, as relações
com as pessoas, questões ecológicas, divulgação de práticas de poupança
energética e diminuição dos níveis de consumo, fazem com que as associações
locais em colaboração com o grupo Transição ofereçam à comunidade uma visão
mais ampla para um futuro próximo. Além das preocupações mencionadas
anteriormente, a Transição pretende criar soluções para a economia, com formas
mais colaborativas, como o empreendedorismo social, através da criação de uma
moeda. Este é de fato um dos grandes desafios, para uma sociedade mais
resiliente e economicamente sustentável sem que valores ecológicos e sociais da
comunidade sejam postos em causa.
Na
rua, no bairro e pela cidade da Covilhã o grupo Transição tem dado o seu
contributo. Entre os dias 17 e 18 de Maio de 2014, foi a vez da Intervenção Artística nas Escadas da
Trapa (Anexo 2). Estas escadas, esquecidas ao longo dos anos, foram agora reavivadas
com pinturas e frases que retratam a história das gentes da Covilhã e das
atividades da Indústria Têxtil que laboraram ao longo do tempo na cidade.
Este
projeto permitiu desenvolver não só a perícia e criatividade, mas também a
ajuda humana da comunidade como manda a tradição do grupo. Com a ajuda da
Câmara Municipal da Covilhã, que disponibilizou meios para a limpeza das
escadas, a tarefa de reabilitação pelo grupo, começou. O principal objetivo da
intervenção, para que não se deixe cair no esquecimento as origens da
comunidade e, se torne os locais mais saudáveis, e com mais vontade de se
frequentarem foi alcançado. Tomando como apoio excertos do romance “A Lã e a
Neve” de Ferreira de Castro, datado de 1947 e que descreve a vida dos operários
que todos os dias desciam e subiam pelas Escadas da Trapa a caminho do
trabalho, foi dado o mote inicial para retomar a vida e trazer luz às mias de
120 escadas que constituem parte da história da Covilhã.
Com
horas de trabalho entre o dia, e a noite a intervenção começou a desenhar-se
com projetores direcionados à parede, esboçando-se imagens de operários e
fábricas. Quando a tinta começou a dar cor e forma às figuras nas paredes, as
pessoas que passavam agradeciam e davam opinião “está tão bonito”, “sim senhor,
muito bem assim, dá gosto ver”. Com algum custo e suor a iniciativa tomou a
figura de um local mais confortável de se ver, e com a história não só no
tempo, mas também transcrita no chão das escadas e nas paredes que as envolvem.
As
figuras das paredes foram desenhos elaborados por alunos do curso de Design e
Multimédia da Universidade da Beira Interior, que no decorrer de uma unidade
curricular aderiram à iniciativa e contribuíram com desenhos das fábricas, dos
operários e de figuras importantes que passaram pelo Teatro das Beiras, uma vez
que uma das paredes do edifício (Anexo 3) se encontra junto às escadas e faz parte
da sua história.
Pelas
mãos das gentes da comunidade que se juntou à iniciativa do Grupo Transição, o
desfecho dos dois dias de intervenção artística nas Escadas da Trapa culminou
com as danças tradicionais europeias, esta atividade é própria do
movimento transição onde todos são aprendizes e mostram o dom da dança em
grupo. Inserido no espírito do grupo houve um momento de convívio, que culminou
com um jantar onde a conversação e troca de ideias imperam. Já perto do final,
o Grupo Transição mostrou um vídeo onde pessoas da Covilhã testemunharam a vida
de outrora naquelas escadas. Na despedida juntou-se toda a gente no início das
escadas, e subiu-se degrau a degrau a ver uma representação “da realidade
vivida na altura dos operários fabris” por elementos do Teatro das Beiras. Quando
subidas todas as escadas, cantaram-se os parabéns dos 40 anos do Teatro, e do primeiro
ano do Grupo Covilhã em Transição.
Vídeo elaborado pelo
Grupo Transição com testemunhos da história das Escadas da Trapa: https://vimeo.com/96318233
Covilhã
em Transição pretende o melhoramento ambiental, social económico e cultural da
comunidade. Este grupo tem na sua área de atuação várias atividades que vai
pondo em prática de acordo com a possibilidade de todos os elementos. Reúnem-se
em grupo e debatem questões que pensam necessárias, sejam elas de foro social,
ambiental ou cultural, o importante é terem ideias que de algum modo sejam
benéficas para a comunidade.
Na
atividade de Reflorestação, (Anexo 4) o grupo
Transição está envolvido com a AMO Portugal, (Associação de Mãos à Obra), e a
Tribo da Estrela, um grupo de amigos que procura intervir de modo a
proteger e preservar o meio ambiente, o lema do grupo é “Pensar global, Agir
local”,
para criar ações de recolha e troca de sementes, criação de viveiros, e reflorestar
a Serra da Estrela. Fazer valas de infiltração, cortar plantas queimadas
pelos incêndios e proteger árvores mais pequenas dos animais. É o trabalho de
sementeira e reflorestação que o grupo transição tem desenvolvido junto da
comunidade da Serra da Estrela.
Também
as Ajudadas (Anexo 5) são ações que visam
implementar conhecimentos, e técnicas de Permacultura em terrenos e jardins com
ajuda voluntária. Através de pedidos, o grupo Transição tem sido o autor de intervenções
em terrenos de pessoas que pretendem ajuda de mãos voluntárias. As Caminhadas (Anexo 6) são uma forma de estar em
contato com a natureza, promovendo o convívio do grupo e prestando atenção para
uma possível intervenção de reflorestação. A Biblioteca e o Cinema
são duas das iniciativas em que o grupo faz uma troca de “conhecimentos”, face
à partilha de livros no sentido de aumentar a informação entre todos. Nos
filmes trata-se de ver temas relacionados com a Transição, a Permacultura e
alguns modos de sensibilizar e estimular novas ideias. Na Educação, o grupo tem estado em estreita colaboração com algumas
escolas da comunidade, como a Escola Secundária Frei Heitor Pinto, onde junto
de alunos e professores, promovem uma educação para a sustentabilidade da
comunidade. Em pareceria com a Coolabora (consultoria de intervenção social),
têm em conjunto o evento Troca a Todos.
Essa parceria baseia-se numa troca de produtos ou serviços sem recurso direto a
dinheiro, que pretende valorizar as competências e possivelmente a implementação
de uma moeda local, tendo já promovido eventos como “dar a volta à vida”. Neste
vasto conjunto de iniciativas, o grupo, tem ainda espaço para as Danças Tradicionais Europeias, um
momento de convívio e descontração. Nesta atividade não há professor, pares
fixos nem gente parada. O lema é saber ouvir o ritmo da música e acima de tudo
saber ouvir o outro, as danças são “todos juntos”. Foi também pela mão das
danças tradicionais que o grupo conseguiu angariação monetária para a
intervenção que mais tarde veio a desenvolver nas Escadas da Trapa.
Para
além de todas as associações que colaboram com o grupo Transição, destaca-se também
o contributo de três jovens, que durante nove meses estiveram em união e
partilha com o Grupo Transição. Lara Motoya de nacionalidade Espanhola, Enrico
Chiari vindo da Itália e Verna Puh da Eslovénia integraram este grupo através
do serviço de Voluntariado Europeu, um intercâmbio internacional. Apaixonados
pela mudança interior que pretendem colocar em prática no sentido de tornar a
comunidade local melhor, estes três voluntários trabalharam na Permacultura e
na transição da comunidade da Covilhã. Chegados sem saber muito bem o que os
esperava, vieram para traçar o seu próprio caminho
na Covilhã. Durante a sua estadia, fizeram parte da intervenção artística nas
Escadas da Trapa e também de todas as atividades que preenchem o sentido de
partilha e união para uma vida em sociedade mais igualitária e melhor. Desta
experiência destaca-se “a conexão com o interior pessoal, a natureza e as
outras pessoas, é o passo principal para uma comunidade inspirada na união e
partilha, e a transição entre todos precisa de ser feita primeiro no nosso
interior e, só depois transportamos isso para a realidade” referiu Enrico.
O
movimento Transição surgiu á cerca de meia década com o objetivo de uma resposta
ambiental e um processo muito focado em questões de sustentabilidade. As comunidades
em Transição devem ser capazes de contar as suas próprias histórias, sejam do
passado, do presente ou futuro e que inspirem novas pessoas e localidades para
a mudança principalmente a nível humano. Atualmente, as sociedades estão
rodeadas de histórias pouco positivas, o pessimismo assolou as comunidades a
nível global. E, neste âmbito o movimento de transição apela à mudança de
pensamentos e de ações a partir do interior das pessoas para junto da
comunidade em que residem.
O
movimento Covilhã Transição procura criar uma comunidade de partilha e ligação com vista a uma sociedade mais solidária e resiliente. A partilha é também um primeiro passo para algo maior, como a confiança, o aumento de laços e o fortalecer das relações, criando um ambiente de segurança. Todo o trabalho realizado pelo grupo e pelas associações colaborativas permite uma reflexão social baseada num desenvolvimento sustentável da comunidade. Com um ano de vida e já com muitas histórias para contar, este grupo tem vindo a criar raízes para que mais tarde o fruto das sementes que semeiam possa ser uma Covilhã viva e saudável entre toda a comunidade.
link do blog do Covilhã Transição:
http://covilhaemtransicao.wordpress.com
link do blog do Covilhã Transição:
http://covilhaemtransicao.wordpress.com
Anexo 1 - Permacultura (cama elevada)
Anexo 2: Intervenção Artística nas Escadas da Trapa
Anexo 3: Intervenção Artística/ Paredes do Teatro das Beiras
Anexo 4: Reflorestação na Serra da Estrela
Anexo 5: Ajudadas - trabalho voluntário da terra
Anexo 6: Caminhadas do grupo Transição
Anexo 7: A educação junto das Escolas da Comunidade
Anexo 8: Troca a Todos - "dar a volta à vida"
Anexo 9: Danças Tradicionais e Europeias
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