Fenómeno de Apostas
Desportivas Online em Portugal
Por: David Sousa
O advento da internet
possibilitou a criação de vários negócios e fontes de rendimento nos diversos
quadrantes da sociedade. Desde a informação ao lazer existem sítios que prestam
serviços que vão de encontro às expectativas dos utilizadores. O caso mais
flagrante de sucesso de uma marca criada neste habitat da internet é o Facebook de Mark Zuckenberg. Hoje,
assiste-se a um fenómeno de migração de empresas criadas no espaço físico para
o online. As casas de apostas desportivas são o exemplo perfeito, anteriormente
sediadas em locais específicos como Estados Unidos da América, Grã-Bretanha ou
Grécia. A implantação do modelo na internet permitiu alcançar novos mercados
como o português.
As casas de
apostas que costumavam ser retratadas nos filmes de Hollywood, geralmente
representavam uma sociedade americana ou britânica, freneticamente disposta a
apostar elevadas quantidades de dinheiro nas corridas de cavalos ou num encontro
de futebol americano. O dinheiro era entregue em mãos num determinado espaço
físico. Apesar desses locais e a sua popularidade ainda persistirem, é inegável
o sucesso que este movimento provocou na rede.
A crise económica
que afecta Portugal constitui um dos motivos para o utilizador português se
arriscar nesta aventura, inicialmente acredita-se que será uma fonte de
rendimento extra, outro dos motivos apontados é "adrenalina"
adjacente ao risco de apostar dinheiro. O número de apostadores portugueses
registados e o volume de capital que é movimentado anualmente com apostas desportivas
ainda é desconhecido, fruto da falta de regulamentação e da intransigência das
casas em fornecer dados específicos. As referências dadas é que o número tem
duplicado ano após ano.
Com a
proliferação das casas de apostas em servidores portugueses, Bruno Coutinho
teve a ousadia de em 2005, criar o primeiro sítio português na internet
destinado à discussão, partilha de informação e de prognósticos para eventos
desportivos - apostaganha.pt.
Bruno Coutinho |
O interesse havia sido suscitado pelas inúmeras
publicidades que o "bombardeavam" nos meios de comunicação, a ideia
surgiu "numa altura em que já tinha um fórum de informática, de imediato
lembrei-me de criar um fórum de apostas onde não só pudesse compartilhar as
minhas previsões como discutir as previsões dos outros e todos em conjunto
escolher as melhores apostas". O crescimento do website verificou-se à
medida que a internet se ia tornando mais popular, através de uma estratégia de
produção muito utilizada por sítios como o Youtube
ou Wikipédia, o crowdsourcing. Consiste
na utilização de conhecimentos colectivos e voluntários para a criação de
conteúdo, ideias e respectivo desenvolvimento.
Neste momento é
administrador da maior comunidade de apostadores online, com cerca de 20151 membros inscritos. O seu alcance quebrou fronteiras e existe já dentro do
próprio site uma grande comunidade brasileira de apostadores, "alguns a
ajudarem na gestão do espaço". Bruno, como é amigavelmente tratado no seu
fórum de apostadores, num regresso temporário ao ano de 2005 revelou que as
expectativas não eram elevadas "nunca na vida" imaginou a preponderância que o site viria a tomar para os apostadores mas "aquela
ponta de esperança" permanecia. Estabeleceu ao longo dos anos parcerias com casas
de apostas, em troca de espaços publicitários no site e promoção de registos,
as casas fornecem bónus e prémios para
os utilizadores que tiverem melhor desempenho mensalmente. Apesar do seu
sucesso na área, o mentor do "apostaganha" lança um aviso sério à
navegação e às ilusões que muitas vezes são vendidas neste meio onde vê
"muita gente a entrar no jogo online à procura do dinheiro fácil e rápido,
e com o pensamento que vão ficar ricos depressa. Erro crasso, são os primeiros
a perder o que tinham para apostar. As apostas são uma maratona, não uma
corrida dos 100 metros."
Nos bastidores
das apostas tenta-se configurar modelos ou estratégias para ter lucro a
médio-longo prazo, são criados alguns manuais com passos a seguir para se ter
sucesso, uma boa gestão de banca, informação relativa aos jogos e
intervenientes, análise estatística e visualização dos eventos são pedras
basilares para os apostadores que pensam as apostas de forma mais profissional.
Bruno acredita de forma convicta na profissionalização do apostador,
"conheço de perto alguns. É necessária muita frieza, muita estabilidade
emocional, e só quando levada como uma espécie de "trabalho", com
todas as responsabilidades inerentes, é possível ter sucesso no longo prazo.
Com 24 anos e
oriundo de Vila Real, Rodrigo Castelo é o membro do apostaganha com melhores
resultados desde que existe essa contabilização estatística pelo website, ainda
assim, convictamente acredita não existir "uma fórmula mágica ou
científica". Este especialista em ténis é peremptório quando diz que não se
considera um apostador profissional e que se limita a preparar antes de apostar
através de uma análise ao momento dos intervenientes. Informação e conhecimento
sãos as componentes mais preponderantes. Numa alusão ao momento mais
"stressante" que viveu enquanto apostador, revelou ainda hoje
aliviado "ia com o intuito de fazer uma aposta no valor de 50 euros na
Sara Errani", famosa tenista italiana e "num erro ao digitar o valor,
apliquei mais um zero e apostei 500 euros" algo que nunca faz numa só
aposta "suei durante todo o encontro. A Errani acabou por ganhar após
muitos sobressaltos". Mas, nem todos os casos terminaram da forma mais
feliz e muitos utilizadores acabam por nem conhecer o sabor da vitória. João
Aleixo do Porto começou a apostar com 18 anos, em pequenas quantidades,
"carregava a conta com 10 euros" e apostava juntamente com amigos.
Jovem e inexperiente nos primeiros contactos com o jogo só mais tarde percebeu
que "estava algo viciado. Não tinha controlo emocional, e sempre que
perdia 10 euros, lá ia carregar 10 euros assim que podia", a justificativa
para tal acto deixava de ser a ideia do lucro mas mais "recuperar tudo o
que tinha perdido."
A questão em
torno das apostas desportivas tem ganho espaço mediático em Portugal, por
reivindicação dos clubes, que vêem o seu nome utilizado pelas casas e por
parte do governo que pode aproveitar uma nova fonte de receita fiscal. Por
falta de regulamentação já foram retirados contratos publicitários de
operadoras de apostas desportivas online , no entanto o caminho "é
inevitável e deve seguir o rumo da maior parte dos países da Europa". O
objectivo do governo português é fazer com que a Santa Casa regule as apostas
desportivas online tal como faz com os restantes jogos da sorte, mas tudo
dependerá do modelo escolhido "se seguirmos o que foi feito em França ou
Itália ficaremos todos a perder, Estado incluído. Se seguíssemos o exemplo
dinamarquês, que tem total abertura ao mercado e não obriga a contribuições
utópicas, seria uma aposta ganha para todas as partes, especialmente o
apostador que é quem mais importa." afiançou Bruno Coutinho.
O debate decorre
e coloca de um lado as operadoras e a Associação Nacional de Apostadores Online
(ANAO) e do outro as entidades clubísticas e governamentais. Seja qual for o
modelo adoptado estão previstas alterações que irão mudar o "modus
operandi" das apostas em Portugal com implicações ainda por classificar
para os apostadores, casas de apostas, Estado e clubes desportivos.