quarta-feira, 11 de junho de 2014


As gerações do croché

Por: Marlyne Eva

A arte do croché é difícil de explicar, assim como a sua origem.  A denominação desta arte das agulhas deriva das palavra francesa “crochet”, que significa gancho.
Maria José, nascida e criada na cidade da Covilhã é amante do croché desde muito nova, nunca foi a sua profissão, mas poderia ter sido.
O gosto pelo croché apareceu aos 4 anos de idade, quando a sua avó materna lhe ensinou este lavor. Sempre curiosa pediu à sua avó que lhe ensinasse a fazer croché, e começou logo por aprender o ponto cordão, como diz “é o mais fácil, é o começo de todos os trabalhos”.  É dos pontos mais fáceis de aprender, não sendo precisa muita prática para o fazer.

Pormenor de colcha de croché
“Ela tinha umas mãos de ouro e era muito desenrascada” continua Maria José ao relembrar os tempos que a sua avó lhe ensinou a fazer rendas pequenas, quando tinha seis anos. Fala também da mãe, que sabia fazer croché, mas que “não tinha tanto tempo para me ensinar”. Apesar de tudo, Maria José refere que lhe foi tomando o gosto e  “tudo o que via, tentava sempre fazer igual”. Os tempos foram passando já no início da adolescência, aos 14 anos, Maria José começou a trabalhar na fábrica de lanifícios, onde lidava, muitas vezes, com mulheres mais velhas. Mulheres essas que traziam também as suas rendas, para que nos momentos de pausa se pudessem entreter. E ainda pequena, Maria José sempre teve vontade de aprender tudo o que pudesse, e nesse sentido quando via as colegas a fazerem as suas rendas pedia sempre para as ver ou para as levar emprestadas, para que mais tarde, pudesse fazer uma igual. E foi assim até começar a formar a sua família.
No fim de contas, Maria José constituiu uma família com cinco filhas e um filho. A sua grande vontade foi que as filhas aprendessem e tivessem o mesmo gosto que ela tem pela arte do croché, e assim foi. Todas aprenderam a fazer croché, mas nem todas tomaram essa actividade como um gosto. Paula foi uma das que mais se agarrou a este lavor, e recorda “desde muito nova que me lembro de admirar a minha avó a fazer croché”. Sempre achou que trabalhar com a agulha não fosse fácil, mas nunca desistiu. Continua “quem me ensinou os primeiros pontos foi a minha avó, porque a minha mãe não tinha tempo”. Mas Paula refere que começou por aprender outro lavor, o tricô. O ponto liga e o ponto meia foram os primeiros que aprendeu, pois segundo a sua avó teria de treinar esses para depois conseguir aprender a fazer croché.
E assim foi, depois de aprender a manusear as agulhas de tricô, e ao fazer “camisolas de gola alta para bonecas”, Paula lembra que a mãe percebeu o seu gosto pelo croché e começou por lhe ensinar os pontos básicos desta arte.

Colcha para o primeiro neto de Maria José
Durante os primeiros anos, Maria José tinha sempre ideias em mente para peças de croché, principalmente, planos relacionados com os netos que não tardariam a vir. Assim sendo, fez uma colcha para o primeiro neto que nascesse, e ainda hoje guarda a colcha com amor e saudade desses tempos, em que “tinha muito mais paciência para fazer peças deste género”.

Em jeito de curiosidade Maria José ainda conta que já passou cerca de quinhentas horas a fazer uma colcha de croché para uma das suas filhas. “O meu marido é que foi contanto as horas que a demorei a fazer”, continua dizendo que essa colcha pesava seis quilos.




 
Peças de croché de Maria José
Actualmente, esta arte não está tão disseminada como antigamente. As novas tecnologias deixaram estes trabalhos manuais para trás, e Maria José acha que “a maior parte das pessoas não dá valor a esta arte, principalmente os jovens”. Contudo diz também que, de certa forma, há muitas jovens que gostam de peças de roupa feitas com croché. Por outro lado, a sua filha Paula considera que as pessoas não valorizam este trabalho. “Trabalhamos horas a fio com amor e carinho, ponto por ponto”, diz Paula que sempre que faz um trabalho está ansiosa por ver o seu resultado. “Mesmo em termos monetários, acho que é difícil quantificar o trabalho que isto dá”, continuou.





Peças de croché de Paula

Ao mostrar várias das peças que guardam com carinho, ou que ainda estão a fazer, Maria José e a sua filha Paula lembram que hoje em dia já não se faz tanto croché como dantes. Maria José porque que se sente cansada mais rapidamente e “a vista já não é a mesma”, para além de que é preciso muita paciência. Paula, por sua vez, diz que ainda faz alguns trabalhos, mas que só não faz mais porque “a vida não me deixa muito tempo para o croché, pois são precisas muitas horas para conseguir fazer um bom trabalho”.
Em relação às netas, Maria José diz que “adorava muito” que elas aprendessem esta arte, contudo, tendo apenas quatro netas, essa realidade começa a ser difícil. Sabe que algumas já foram experimentando fazer algumas coisas básicas desta arte, mas não perde a esperança que alguma delas lhe tome o mesmo gosto que ela própria. Paula diz que iria adorar, e que a seu tempo e quando tiver mais disponibilidade terá “um tempo disponível para ensinar as netas”. Continua dizendo que “gostava, que pelo menos elas se iniciassem nesta arte, pois seria muito interessante”.
A vida passa e há tradições que se mantêm, e Paula gosta de guardar algumas da peças que a sua mãe lhe foi fazendo, e ela própria confessa que espera deixá-las à sua filha.
A arte do croché fez sempre parte desta família e o espólio é bastante extenso, como se pode ver nas seguintes fotografias e vídeos.

                                                                                                                                                                                

                           





Maria José a fazer croché


Paula a fazer croché

“O croché há-de vencer sempre” finalizou Maria José.

É difícil perceber qual a origem desta arte, mas pensa-se que tenha sido na Arábia. As rotas comerciais dos países árabes levaram esta arte até ao Tibete e também em direcção a Espanha, através da rota do Mediterrâneo.
Por outro lado, também se pensa que tenha tido origem na América do Sul no seio de uma tribo primitiva que usava adornos de croché em rituais de passagem para a adolescência.
Outro dos prováveis locais de origem foi a China, devido a algumas descobertas arqueológicas, muito parecidas com as peças de croché que conhecemos dos dias de hoje.
Este tipo de trabalho começou a ser difundido no século XVI na França, por freiras e professoras de artes, que ensinavam este tipo de renda. Durante esta época, o croché foi considerado um passatempo da classe social alta.
Já no século XX, desde o final dos anos 40 até ao início dos 60  houve um ressurgimento desta arte, passando a ser vista como artesanato. É já na primeira década do século XXI que o croché renasce e começa a fazer parte de muitos desfiles de moda internacionais.
Hoje em dia o croché também já está nas redes sociais, como por exemplo no Facebook. Através destas páginas juntam-se pessoas que partilham experiências e trabalhos, assim como muitas imagens dos pontos possíveis desta arte. Estas páginas de Facebook são alguns dos exemplos que fortalecem a presença do croché actualmente na sociedade, que apesar de estar tecnologicamente mais avançada, não deixa de esta interessada na arte de fazer croché.

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