quarta-feira, 11 de junho de 2014

Fenómeno de Apostas Desportivas Online em Portugal

Por: David Sousa

O advento da internet possibilitou a criação de vários negócios e fontes de rendimento nos diversos quadrantes da sociedade. Desde a informação ao lazer existem sítios que prestam serviços que vão de encontro às expectativas dos utilizadores. O caso mais flagrante de sucesso de uma marca criada neste habitat da internet é o Facebook de Mark Zuckenberg. Hoje, assiste-se a um fenómeno de migração de empresas criadas no espaço físico para o online. As casas de apostas desportivas são o exemplo perfeito, anteriormente sediadas em locais específicos como Estados Unidos da América, Grã-Bretanha ou Grécia. A implantação do modelo na internet permitiu alcançar novos mercados como o português.


As casas de apostas que costumavam ser retratadas nos filmes de Hollywood, geralmente representavam uma sociedade americana ou britânica, freneticamente disposta a apostar elevadas quantidades de dinheiro nas corridas de cavalos ou num encontro de futebol americano. O dinheiro era entregue em mãos num determinado espaço físico. Apesar desses locais e a sua popularidade ainda persistirem, é inegável o sucesso que este movimento provocou na rede.
A crise económica que afecta Portugal constitui um dos motivos para o utilizador português se arriscar nesta aventura, inicialmente acredita-se que será uma fonte de rendimento extra, outro dos motivos apontados é "adrenalina" adjacente ao risco de apostar dinheiro. O número de apostadores portugueses registados e o volume de capital que é movimentado anualmente com apostas desportivas ainda é desconhecido, fruto da falta de regulamentação e da intransigência das casas em fornecer dados específicos. As referências dadas é que o número tem duplicado ano após ano.
 Com a proliferação das casas de apostas em servidores portugueses, Bruno Coutinho teve a ousadia de em 2005, criar o primeiro sítio português na internet destinado à discussão, partilha de informação e de prognósticos para eventos desportivos - apostaganha.pt.


Bruno Coutinho


O interesse havia sido suscitado pelas inúmeras publicidades que o "bombardeavam" nos meios de comunicação, a ideia surgiu "numa altura em que já tinha um fórum de informática, de imediato lembrei-me de criar um fórum de apostas onde não só pudesse compartilhar as minhas previsões como discutir as previsões dos outros e todos em conjunto escolher as melhores apostas". O crescimento do website verificou-se à medida que a internet se ia tornando mais popular, através de uma estratégia de produção muito utilizada por sítios como o Youtube ou Wikipédia, o crowdsourcing. Consiste na utilização de conhecimentos colectivos e voluntários para a criação de conteúdo, ideias e respectivo desenvolvimento.
Neste momento é administrador da maior comunidade de apostadores online, com cerca de 20151 membros inscritos. O seu alcance quebrou fronteiras e existe já dentro do próprio site uma grande comunidade brasileira de apostadores, "alguns a ajudarem na gestão do espaço". Bruno, como é amigavelmente tratado no seu fórum de apostadores, num regresso temporário ao ano de 2005 revelou que as expectativas não eram elevadas "nunca na vida" imaginou a preponderância que o site viria a tomar para os apostadores mas "aquela ponta de esperança" permanecia. Estabeleceu ao longo dos anos parcerias com casas de apostas, em troca de espaços publicitários no site e promoção de registos, as casas  fornecem bónus e prémios para os utilizadores que tiverem melhor desempenho mensalmente. Apesar do seu sucesso na área, o mentor do "apostaganha" lança um aviso sério à navegação e às ilusões que muitas vezes são vendidas neste meio onde vê "muita gente a entrar no jogo online à procura do dinheiro fácil e rápido, e com o pensamento que vão ficar ricos depressa. Erro crasso, são os primeiros a perder o que tinham para apostar. As apostas são uma maratona, não uma corrida dos 100 metros."



Nos bastidores das apostas tenta-se configurar modelos ou estratégias para ter lucro a médio-longo prazo, são criados alguns manuais com passos a seguir para se ter sucesso, uma boa gestão de banca, informação relativa aos jogos e intervenientes, análise estatística e visualização dos eventos são pedras basilares para os apostadores que pensam as apostas de forma mais profissional. Bruno acredita de forma convicta na profissionalização do apostador, "conheço de perto alguns. É necessária muita frieza, muita estabilidade emocional, e só quando levada como uma espécie de "trabalho", com todas as responsabilidades inerentes, é possível ter sucesso no longo prazo.




Com 24 anos e oriundo de Vila Real, Rodrigo Castelo é o membro do apostaganha com melhores resultados desde que existe essa contabilização estatística pelo website, ainda assim, convictamente acredita não existir "uma fórmula mágica ou científica". Este especialista em ténis é peremptório quando diz que não se considera um apostador profissional e que se limita a preparar antes de apostar através de uma análise ao momento dos intervenientes. Informação e conhecimento sãos as componentes mais preponderantes. Numa alusão ao momento mais "stressante" que viveu enquanto apostador, revelou ainda hoje aliviado "ia com o intuito de fazer uma aposta no valor de 50 euros na Sara Errani", famosa tenista italiana e "num erro ao digitar o valor, apliquei mais um zero e apostei 500 euros" algo que nunca faz numa só aposta "suei durante todo o encontro. A Errani acabou por ganhar após muitos sobressaltos". Mas, nem todos os casos terminaram da forma mais feliz e muitos utilizadores acabam por nem conhecer o sabor da vitória. João Aleixo do Porto começou a apostar com 18 anos, em pequenas quantidades, "carregava a conta com 10 euros" e apostava juntamente com amigos. Jovem e inexperiente nos primeiros contactos com o jogo só mais tarde percebeu que "estava algo viciado. Não tinha controlo emocional, e sempre que perdia 10 euros, lá ia carregar 10 euros assim que podia", a justificativa para tal acto deixava de ser a ideia do lucro mas mais "recuperar tudo o que tinha perdido."
A questão em torno das apostas desportivas tem ganho espaço mediático em Portugal, por reivindicação dos clubes, que vêem o seu nome utilizado pelas casas e por parte do governo que pode aproveitar uma nova fonte de receita fiscal. Por falta de regulamentação já foram retirados contratos publicitários de operadoras de apostas desportivas online , no entanto o caminho "é inevitável e deve seguir o rumo da maior parte dos países da Europa". O objectivo do governo português é fazer com que a Santa Casa regule as apostas desportivas online tal como faz com os restantes jogos da sorte, mas tudo dependerá do modelo escolhido "se seguirmos o que foi feito em França ou Itália ficaremos todos a perder, Estado incluído. Se seguíssemos o exemplo dinamarquês, que tem total abertura ao mercado e não obriga a contribuições utópicas, seria uma aposta ganha para todas as partes, especialmente o apostador que é quem mais importa." afiançou Bruno Coutinho.
O debate decorre e coloca de um lado as operadoras e a Associação Nacional de Apostadores Online (ANAO) e do outro as entidades clubísticas e governamentais. Seja qual for o modelo adoptado estão previstas alterações que irão mudar o "modus operandi" das apostas em Portugal com implicações ainda por classificar para os apostadores, casas de apostas, Estado e clubes desportivos. 

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